Páginas

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Vida de Formiga

                           

 Um garoto havia acabado de ter sua primeira aula sobre Revolução Francesa, e parecia ter se encontrado nas palavras apaixonadas de seu professor. Descrevendo a queda da monarquia, a massa de miseráveis avançando contra a Bastilha, a luta por uma nova França, uma França que dividisse as terras e que a população tivesse o que comer e a possibilidade de uma vida melhor. As pessoas unidas cantando a Marselhesa. O menino estava encantado com tudo aquilo, e por isso olhava já fazia uns bons cinco minutos, fixamente, para o formigueiro que havia em seu jardim. 

  Ele sabia como funcionava um formigueiro, tinha aprendido na aula de ciências, mas com a aula de hoje em História tudo na estrutura do formigueiro parecia muito mais clara e ele entendia a lógica diabólica daquele sistema... A formiga rainha era uma governante absolutista que punha seu povo para trabalhar incansavelmente, sob o sol inclemente e por horas a fio as formigas operárias,o povo, eram explorados até a exaustão. Ele tinha que fazer algo, não deixaria que aquele regime monárquico e opressor continuasse!

 Primeiro ele pensou em sequestrar a Rainha, e que ao fazer isso as formigas se dariam conta da ausência de liberdade e instalariam um governo popular, no entanto como a capturaria? Pelo que sabia a monarca ficava no fundo do formigueiro, muito bem protegida, achou melhor não, era inviável demais. Concluiu que seria melhor barrar o trabalho dos insetos, pôs gravetos e pedras no caminho que elas percorriam, e até tirou as folhas que carregavam de suas pequenas costas suadas. Queria fazer com que parassem com aquela labuta fatigante, talvez isso gerasse uma discussão, uma manifestação para desestabilizar o poder regente, mas não, elas não aderiram, passaram por cima da pedra que lhes obstruía o caminho e uma delas chegou a picá-lo.

 A tarde já ia chegando ao fim quando uma brilhante idéia lhe ocorreu. Correu até a cozinha e voltou pouco depois. Olhou para aquela fila de criaturas carregando seu pesado alimento trazido de cantos longínquos do quintal; ele abaixou-se e de forma divina estendeu a mão deixando cair o que carregava, uma chuva branca e doce desceu sobre os pequenos trabalhadores.

- Vocês não precisam mais trabalhar tanto, eu lhes trarei açúcar todos os dias, podem montar um governo democrático e republicano agora e...

 As formigas formaram um círculo a sua volta, ergueram suas antenas na direção do menino, as mandíbulas imóveis, ele viu-se cercado e ficou apreensivo. Elas se ajoelharam (dobraram sua articulações móveis) no que parecia uma reverência e disseram em uníssono:

-Nosso senhor, nosso rei,vida longa ao mestre da fartura!!!
-Ah...

Um sorriso nasceu em sua face ao mesmo tempo em que sumiu todas suas idéias libertárias. Um sentimento o invadiu e o tomou por completo quando declamou alto e inflamado:

- Certo então, eu as governarei, serei seu imperador, levarei vocês ao ápice, seremos o melhor formigueiro, o mais unido, o mais forte, entretanto minha filhas, teremos que fazer alguns sacrifícios e esforços e – com o dedo em riste e o peito estufado - e desde já deixo claro que não vou tolerar objeções, insubordinação ou reclamações!


 O governo daquele menino sobre as formigas seria marcado não só pela fartura do açúcar, mas por seus por seus meios de intimidação com aquele povo artrópode: o “polegar” para esmagar, e o que daria o nome ao seu período de governo, o ”Reinado Do Álcool e Fósforo”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário